sexta-feira, 30 de julho de 2010

Adeus...

Ver você gelada, pálida e imóvel, deitada em uma caixinha, foi um dos piores momentos da minha vida. E não digo isso da boca pra fora: eu nunca tinha perdido alguém e, aos poucos, enquanto suplicava para que qualquer Deus trouxesse você de volta, via que nada adiantaria e que eu nunca mais poderia ver seu sorriso.

Queria te dizer o quanto você é importante pra mim, o quanto aprendi contigo e o quanto me orgulho de você. Queria ser metade da pessoa que foste: uma mulher forte que educou e deu amor para tantos filhos e ainda tinha o mesmo amor para seus netos e os filhos destes.

Eu... Lamento tanto não ter conseguido aprender a fazer tricô ou alguma das coisas que você fazia tão bem, lamento não ter passado mais tempo ao seu lado para passar todo esse conhecimento que se perdeu para frente, lamento nunca ter gritado o quanto eu te amava e lamento mais ainda ter me afastado tanto nos últimos dias.

Eu... Sei que não sou mais a menina de quem você tanto se orgulhava, que sorria para todo mundo, que acreditava em Deus e era doce com todos, independente de terem lhe feito algum mal ou não. Sei que o que você mais valorizava é o que sou mais contra, mas isso não muda nem um pouco o que sinto por ti e espero que não mude o que você sinta por mim.

Dói muito saber que você nunca irá conhecer meus filhos, dói saber que quando eu me formar você não vai estar lá para me parabenizar. E você disse, um dia, que seu maior sonho era me ver lá, no palco, me formando.

Quando tive minha primeira formatura, você foi a primeira pessoa a quem dei o convite. Você estava na sua cozinha, como sempre. Eu entrei pela porta dos fundos, te abracei e entreguei o envelope. Você estava tão orgulhosa de mim naquele dia... E eu estava tão feliz que lhe teria lá. E você se foi antes de poder me ver...

Na última vez que te vi eu estava lavando louça, em casa, e você deu uma passadinha antes de ir para o centro. Encostou-se na bancada, sorriu para mim e disse que queria que eu continuasse sempre assim, sempre ajudando os outros. Eu não tive a chance de te dizer adeus e você me abandonou para sempre no dia seguinte.

Ainda me lembro do seu rosto, da sua voz e do seu cheiro, mas tenho medo pois sei que aos poucos as memórias vão ficando mais fracas.

Eu só queria te falar que eu te amo, muito. Que minhas lágrimas ainda continuam caindo de vez em quando, mesmo depois de mais de um ano. Perdoe-me por ter prometido ir visitar o lugar onde você adormece e não ter cumprido, perdoe-me não ser quem você esperava de mim. Não faço isso por não te amar. Não acredito em céu, mas sei que um dia irei te encontrar no mesmo campo florido ao qual você me fazia pensar para conseguir adormecer, quando eu tinha medo.

Só queria te falar que ainda te sinto aqui. Sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário